sábado, 16 de julho de 2011

P R E F Á C I O


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Um romance seja ele histórico ou ficcional demanda, antes de tudo por parte do autor, uma alta dose de sentimento e sensibilidade. Conviver com personagens é, para o autor viver várias vidas, suas dores e felicidades, apreensões e relaxamentos. O autor se vê rodeado de fantasmas, que “muita vez o perseguem” no dizer de Edgar Allan Poe. O romancista é o cantador, poeta sem rimas, de realidades que apenas sua mente conhece, mas que deseja passar a todos os mortais, aquilo que sua alma transbordou.
O romancista mais do que ninguém, é capas de fazer viajar os leitores, por mundos e quimeras. Tira-los das realidades, muita vez duras e sofridas. O romancista é o cineasta das mentes, cria roteiros, argumentos, prepara a iluminação o vestuário. Tudo para fazer seu leitor, o objetivo único do escritor, possa divagar e penetrar em sua quimera.
A riqueza da língua, do idioma, está no romance, mais do que na poesia, sem nenhum demérito aos poetas, porém ao escritor de prosa, está a liberdade de ser e dizer como o homem comum, explicar o dia a dia, mostra o comezinho, os pequenos amores, as vaidades possessas, as necessidades básicas da vida, o corriqueiro, o “pouco se me dá”. A prosa tem a necessidade de contar uma história, princípio, meio e nem sempre o fim. O fim muita vez está na imaginação de cada leitor.
                                            
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O romance histórico, aquele calcado na realidade é obra de ourives, precisa de detalhes, conhecimento, poucos conseguem. Marguerite Youcenar, na sua “Memórias de Adriano”, nos mostra o requinte do romancista histórico, pesquisador incansável de detalhes, com sensibilidade de lapidador, para transformar a história fria de realidades, em coisas de gente viva, quente, pulsante. Perceber que coincidências, não são coincidências, mas conseqüências de ações de cada um.
Outros gênios ambientaram sua imaginação em revoluções, guerras, catástrofes naturais ou não, mostrando que ao meio de tudo isto houve vida pulsando, amando, chorando, sorrindo. “Os Miseráveis”, “A Casa dos Espíritos”, Dr. Jivago”, e tantos outros, que encantaram leitores pelo mundo a fora, fazendo sonhar, sorrir, chorar.
A história é o grande romance da humanidade, que continua sendo escrito, pelas vidas de cada um dos bilhões de homens e mulheres neste mundo. Cada um vivendo suas pequenas tragédias, muitos lutando pela simples sobrevivência, em verdadeiras epopéias, dignas de Homero. São estas as fontes dos romancistas históricos, que mostram a grandiosidade inerente de cada pessoa, mostra que o momento de cada vida é único, indissolúvel de sua inspiração divina.
                                           
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Vollmann uma Vida, é obra para ser lida e relida. É a trajetória de uma família que a história do mundo fez como as marés, levou por onde quis e para onde quis, por anos e décadas. As guerras mundiais que influenciam o mundo até hoje, ainda têm muitas histórias para contar, mas esta de Sergio Neumann é especial. Ele soube como mesclar os horrores e tristezas, com uma dose certa de sentimento, sem piegas, com a austeridade de um jogral, sem machucar o leitor.
Da Alemanha destruída pela Primeira Guerra Mundial, passando pela doce irresponsabilidade dos anos trinta, o desatina da Segunda Guerra, até ao Brasil, a família Vollmann traça o panorama da história do mundo e suas implicações no dia a dia, no pessoal de cada um. Ainda que o mundo queime, restará sempre a esperança na raça humana, antes de forte, teimosa em viver a qualquer custo. A despeito das loucuras políticas e militares, os homens e mulheres desta terra, teimam em viver.
È livro de leitura que prende a atenção do leitor, roteiro pronto para a grande tela, se esse nosso país tivesse consideração com sua cultura, com sua história. Sergio Neumann é escritor novo e já tarimbado na arte misturar história com ficção, sem perder o ritmo. O amor perpassa por toda trama, assim como ele vê a vida, quis, ou percebeu que seus personagens devem ter vivido.

Petrópolis, 22 de junho de 2007

Álvaro Zanatta   

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